quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A identificação: O Eu influenciando outro (filhos e filhas)


 Buscando o conceito psicanalítico de “identificação”, encontro a ideia de que o termo designa o processo pelo qual um sujeito se apropria dos traços ou atributos de outros seres humanos, com os quais convive. É, na verdade, o processo fundamental para a construção do outro enquanto sujeito. Assim, a identificação opera como uma carga de influência essencial à construção do “eu” no outro. Quero dizer que a construção do outro como sujeito se dá, sim, a partir da identificação que se estabelece na relação parental. Já deu para perceber a importância enorme do pai e da mãe nesse processo. Sim, os filhos, de certa maneira são constituídos de nosso material genético e também de elementos de identificação que formarão a sua personalidade. As crianças desde a primeira infância vão desenvolvendo e assimilando valores, traços e características do outro, cuja relação de identificação se estabeleceu.
O que busco dizer é que o enlaçamento dos pais com os filhos molda, sim, as personalidades. Dessa forma, quando falamos aos nossos filhos, ainda no berço, ressaltando as características atribuídas, vamos moldando essa personalidade. Por exemplo:  quando falamos “ que criança risonha e alegre”, “tem o jeito do papai”, “nossa, como ela é tímida” etc., estamos moldando de maneira volumosa a carga de personalidade que irá suportar a formação dessa criança. Isso me leva a dizer que, de certa forma, o que dizemos aos filhos é o que de certa maneira estarão moldados a serem. Sinceramente, se eu tivesse esse conhecimento, quando os meus filhos ainda eram bebês, certamente, eu teria tido um outro modelo de direcionamento a eles. Digo isso por entender, hoje, a luz do conhecimento psicanalítico que a identificação é a marca do outro em nós. Isso aconteceu conosco também na relação parental com os nossos pais.
Bem, mas se é assim tão natural, qual é o significado desse breve ensaio? Seria apenas levantar a questão? Não, dar luz a um fato real: esse processo de identificação faz com que o “eu” desenvolvido no outro (nossas crianças, no caso), não seja exatamente o que esse outro é em sua essência. Descomplicando... quero dizer que essa carga de identificação, embora tenha contribuído para a formação da personalidade de nossos filhos, eles não são o que nós transferimos a eles e, por isso, chegará o momento em que a personalidade de cada um irá, sim, ter que lidar com toda essa identificação. Ocorrerá em cada um a necessidade natural de encontrarem a sua própria identidade, rompendo, portanto, com esse espelhamento. É nessa busca que certamente haverá alguns choques e conflitos, bem típicos da fase da adolescência. Sendo assim, é aí que o sujeito estará construindo a sua personalidade, o seu “eu”. Se não conseguir quebrar esse espelhamento e se construir uma nova existência, poderemos estar diante de uma situação que leve à clínica psicanalítica em decorrência de uma desestruturação do aparelho psíquico. O sujeito necessita ser dono de si mesmo.

Dessa forma, podemos dizer que há o momento no desenvolvimento da criança ou do adolescente, que ela(e) necessita deslocar-se do outro e tornar-se um sujeito real. A psicanálise freudiana nos ensina que o descolamento, ou seja, a separação daquele que se configura como o outro de sua existência, é necessária para que a criança se situe no mundo em relação não mais a uma criança idealizada, mas a uma pessoa constituída como sujeito real, dotado de autonomia enquanto ser. 


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Desenhos animados com cenas de violência



Hoje, uma das cenas mais comuns que encontramos são as crianças expostas há vários canais de TV por assinatura ou mesmo diante de jogos de videogames, deliciando- se com desenhos ou jogos agressivos. Muitas vezes, desconhecendo o perigo de tal exposição, os pais se sentem aliviados com o sossego e podem seguir com a rotina doméstica. Contudo, há um enorme perigo nessa conduta e precisamos estar atentos para evitar problemas maiores, pois esse alívio, dá lugar a uma situação de risco, quando assistimos a alguns programas das TVs ditas infantis. Não faltam cenas de violência e mensagens muitas vezes duvidosas. Acompanhe e verás que os personagens, considerados verdadeiros heróis por nossas crianças, além de violentos, possuem valores que muitas vezes se chocam com os valores que ensinamos em casa e na escola, o que leva as crianças a conviverem com uma ambiguidade, que não estão preparados para compreenderem.
Os super-heróis dos jogos e dos seriados infantis na TV são geralmente seres com superpoderes, capazes de enfrentar tudo e todos os perigos. Esse repertório transfere às crianças a sensação de que, como os personagens da TV e dos jogos, são investidas de poderes que dão a elas uma força tremenda, capaz de levá-las a resolver tudo. O imaginário se confunde com o mundo real e aí, na escola e mesmo no condomínio, querem, ao brincar com os colegas, vivenciar essa transferência e exercer os seus superpoderes. Muitas vezes, essas brincadeiras acabam machucando alguém. Com o senso de realidade contaminado pelo imaginário, a criança é em si um ser de superpoderes que, assim como os personagens que ela se identificou, resolverá os problemas com a força e com as armas poderosas. Estamos aí diante de um problema sério.
Essa onipotência se faz presente no mundo das crianças, quando se sentem contrariadas ou mesmo frustradas em seus desejos. Quando são contrariadas pelos pais ou pelos colegas de escola, por exemplo. Diante de uma negativa dos pais que leva à frustração de seus desejos, tornam-se violentas, ameaçando a bater nos pais e utilizando de palavras agressivas e de comando como acontece nos filmes e nos jogos. Na relação com os colegas, a postura é a mesma. A intolerância e contradição de seus desejos, geralmente, desencadeiam atos de agressão. Se não for por isso, mesmo brincando naturalmente com o colega, a criança faz uso dos superpoderes do personagem travestido. Dessa forma, mais uma vez, a violência toma espaço, e o conflito torna-se inevitável.
Diante desse quadro, o que os pais devem fazer? Simples! Limitar a exposição aos filmes e aos jogos, bem como determinar o programa e o tempo. Selecionar os jogos de maneira a evitar o contato com os filmes violentos. Mais do que isso, substituir o lazer da criança. Elas estão tendo uma devida ocupação com o tempo? Estão praticando esporte, fazendo leituras regulares e brincando com brinquedos reais e não somente virtuais?  É isso mesmo. As crianças estão precisando de mergulhar nos livros, no mundo da imaginação saudável e em brincadeiras físicas gostosas com as outras crianças. Sei que andamos sem tempo para tanta dedicação, que as ruas estão violentas e que estamos nos isolando socialmente cada vez mais. Contudo, precisamos resgatar para os nossos filhos as brincadeiras saudáveis e a imaginação inocente. Fiquem atentos ao trabalho das babás e acompanhantes. Essas cuidadoras muitas vezes, para não terem trabalho, deixam as crianças à vontade, tendo acesso a tudo, enquanto elas teclam tranquilamente nas redes sociais.
Aproveito a oportunidade para convidar você a curtir a minha página Pedagogia e Psicanálise no Facebook. Estarei nesse espaço virtual postando artigos e reflexões acerca da Educação de crianças e adolescentes. A ideia aqui é criar uma grande corrente, em que, através dessa rede social, possamos compartilhar com todos as experiências acumuladas ao longo dos meus 35 anos dedicados à educação.
É isso aí. Estamos juntos!



Imagem de: http://s4.static.brasilescola.uol.com.br/img/2014/11/figura_animadojapones.jpg


Bater na criança é uma forma de educá-la?



Quando o assunto é a educação dos filhos, certamente as opiniões são diferentes. Cada um acredita que o seu jeito de educar é mais eficiente e, geralmente, agem sem refletir muito sobre o assunto. Quando o assunto é bater ou não nos filhos, aí sim é que as opiniões se multiplicam. Parece não existir mesmo um consenso a respeito do tema. Alguns acham que uma criança que não apanha diante da indisciplina, não será um adulto de caráter. Há os que acham que bater, pode causar reflexos danosos na fase adulta. O que pensar a respeito?
A punição corporal foi usada há muitos séculos como forma de correção dos desvios de conduta. Era normal bater nas crianças até mesmo nas escolas. Ainda recentemente, tínhamos as famosas palmatórias, que eram o terror das crianças e jovens. Em casa, os pais, principalmente o pai, batia de cinta e de chinelo e de certa forma havia uma normalidade nessa conduta educativa. Mais recentemente, nas últimas décadas, essa conduta não tem mais apoio na pedagogia e na psicologia. Até mesmo a legislação proíbe a prática de castigo corporal na educação de crianças e jovens. Essa prática é considerada hoje prejudicial e inadequada.
Mas, diante disso, o que fazer? Como impor limites aos filhos que estão necessitando de correção? Saber impor limites, sem dúvida, é importante para a educação dos filhos. Contudo, os limites só fazem sentido para as crianças se postos em um contexto no qual ela se sinta acolhida e amada. Na verdade, pais que batem em crianças rebeldes, fazem isso porque perderam o controle da situação. Se sentiram ameaçados em sua autoridade, sendo, portanto, uma reação violenta. Acaba em brutalidade, o que certamente não é um gesto educativo. Confesso que já bati em meus filhos e sempre me veio o remoço, após eu ter-me acalmado. Essa reação raivosa, não constrói nada de educativo, é apenas uma ação repressiva. Não ensina, mas somente privilegia a punição. Mas, observe bem... uma tapinha no bumbum, devidamente dosado, em uma situação de absoluto controle dos pais, aí pode sim ter um sentido educativo. O tapa, nesse caso, não visa machucar ou humilhar. Tem na verdade uma função simbólica, significando um não mais enérgico, depois que o pai ou a mãe já cansou de explicar que a conduta da criança não está correta. Aí sim, entra essa ação medida, como uma prática salutar para o limite desejado.
Por mais estranho que lhe possa parecer, a autoridade dos pais depende do afeto e dos laços de confiança com os filhos. Por isso, muitas vezes, um olhar severo funciona mais do que um tapa, pois sugere a perda de confiança. Também, não é para guardar essa raiva demostrada. As crianças são rápidas em se reposicionarem quando percebem de fato que foram além. Dessa forma, os adultos necessitam também de reestabelecer-se rapidamente, deixando de lado a expressão de raiva e voltando a ter com a criança uma relação afetuosa e saudável. Quando a criança acolhe o limite e se adapta as exigências, é a hora dos pais deixarem de lado a cara amarrada e voltarem a sorrir.
Eu gostaria de aproveitar esse contato para compartilhar um livro muito interessante que eu tenho comigo e me ajuda a cuidar dos meus filhos e alunos, uma conduta positiva e mais assertiva. Trata-se do livro Perguntas a um Psicanalista de Roberto Girola, editado pela editora Ideias Letras. Há ali um ensinamento às diversas situações de nosso cotidiano no trato com as pessoas que convivemos e amamos.



Imagem de: http://baebii.com/physical-discipline-reasons-shouldnt-hit-child-part-1/

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Como ajudar os filhos a conviver bem com os meios-irmãos



A convivência entre filhos de uma união atual, com os gerados em uma união anterior, tem sido um desafio interessante para muitas famílias que convivem hoje com associações afetivas multifacetadas. Nesse avançar do nosso século XXI, é claro que vivenciamos um modelo novo de família que certamente exige dos membros desse núcleo a acomodação sentimental às maneiras diferentes de relações. Hoje, mais de 2/3 das uniões acabam se desfazendo. Muitas vezes, os ex-cônjuges buscam refazer as suas relações e daí nascem filhos que terão que se relacionar com irmãos vindos da outra relação do pai ou da mãe, ou mesmo dos dois. Essa realidade existe e não é novidade para nós. O que surpreende, aqui, é termos registros de muitos casamentos que estão acontecendo entre esses casais, sem que antes tenham consolidado uma relação, o que leva a novas rupturas e a novas buscas, multifacetando ainda mais o conceito de família.
O sociólogo Zygmunt Bauman, falecido recentemente, deixou-nos uma vasta obra sobre a liquidez do amor em nosso século. Ele, autor de Amor Líquido, aprofundou o entendimento acerca da fragilidade dos lações humanos. Em tempo de internet e de redes sociais como esse que vivemos, parece mesmo estar influenciando as emoções humanas que estão na mesma velocidade da internet banda larga. Tudo bem, mas estamos sentindo em nossa sociedade, na escola, nos clubes sociais e demais espaços de convívio, uma mudança grande de comportamento social de nossas crianças. Elas estão cada vez mais com dificuldade de estabelecerem laços afetivos e de expressarem segurança emocional. Dessa forma, precisamos estar atentos a essa realidade, visto que, seja qual for a situação na qual os filhos foram concebidos, é comum, hoje, nos grandes centros, o casal ter que conviver com filhos gerados em outras relações, o que não é tarefa tão simples assim.
O que temos não poderemos mudar. O mundo muda e o comportamento humano muda com uma rapidez enorme. O que precisamos é estarmos preparados para conviver com essa situação, o que nem é sempre assim. O convívio entre meios-irmãos pode, sim, ser comprometido pelo posicionamento de pais que não são pais comuns, provocando conflitos, ciúmes e brigas entre os casais e os membros dessa nova família formada. Veja, é preciso muita maturidade para se lidar com os enteados e com os filhos da relação. A não atenção a esse convívio anda comprometendo e muito essa nova união, provocando novas separações. Sabe o que ainda é mais complicado? Essa experiência tem sido vivenciada principalmente por moças jovens que se relacionam e casam pela primeira vez, com homens mais maduros e já com filhos do casamento anterior. O que fazer então? Acreditem, a solução para os problemas está sempre no diálogo, no entendimento e na aceitação das partes.
Em sua insegurança e ingenuidade, as crianças não têm clareza nem maturidade suficientes para entender as relações e os vínculos novos a que estão sendo levadas. Nunca escolhem, pois no caso o amor envolvido é dos adultos. Por isso, temos que estar atentos às crianças. Elas são o lado frágil de tudo isso. Pode ser um sucesso a nova família? Com certeza, mas a construção dela deve ser perfeita nas bases do respeito e do entendimento. Muitas crianças se fecham e sofrem com essa nova situação de família, pois não sabem exatamente o que as espera nessa nova construção de família. Por isso, é preciso muita calma para que o sucesso desse novo casamento venha desaguar no sucesso da nova família. Por sinal, cabe ressaltar, que esse sucesso irá depender da maturidade emocional do casal que se forma para a família. Portanto, de novo, eu oriento o diálogo. Mas não se esqueça: a relação de família deve ser construída, antes que se materialize a relação cotidiana. Só deve haver o casamento depois que tudo estiver acertado e, novos filhos, somente depois que o casamento e a nova família estejam mesmo consolidados. Aí as chances de sucesso são elevadas e as crianças que surgirem nessa nova família serão esperadas e celebradas. Imagine só: para quem enxerga os pais como figuras de equilíbrio e segurança, brigas e indiferenças, geram a não aceitação no convívio familiar. Por isso, vamos lembrar sempre o que digo: o adulto é sempre você!


segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Filhos consumistas: o que os pais estão fazendo para mudar isso?



Basta passearmos nos Shoppings para nos depararmos com crianças e adolescentes consumindo mais do que gente grande. Os lojistas e o mercado em geral sabem disso, e o apelo através das mídias contribuem para acelerar o hábito de consumo dos menores. Nos supermercados, a situação é similar. Carrinhos lotados de produtos supérfluos, escolhidos pelos filhos e filhas que acompanham os seus pais. Se prestarmos atenção mais detalhada, observaremos crianças autoritárias, determinando a marca do produto e a quantidade que se deve levar para a casa. Contrariados, provocam cenas que os pais preferem evitar.  Estamos assim diante de uma geração de consumidores vorazes. Dessa forma, uma pergunta se faz necessário: quem são os responsáveis pelas crianças e adolescentes? Eles não consomem sozinhos, não possuem renda e por isso não podem comprar o que desejam.
As crianças pedem o que querem aos pais, porque é natural pedir. O custo é então repassado aos pais que assumem o ônus desses pedidos sem educar devidamente os filhos e filhas na prática do consumismo. Essa prática acaba se tornando um vício e como tal vai crescendo de maneira descontrolada. Na realidade, os pais, de maneira geral, têm um outro vício: o de não educar os desejos dos filhos, separando-os das necessidades reais. Um “agora não” ou “você não está precisando disso agora”, não educa. Dizer: “depois eu compro”, não estará educando também, mas postergando, empurrando para depois. O que se deve dizer então? Diga não! Se insistir, complete a frase: se continuar pedindo, você irá me esperar lá fora da loja! ” Outra coisa importante: pais precisam combinar entre si as premissas da educação e não postergar situações. O pai agir de um jeito e a mãe de outro, piora tudo e a criança ou mesmo o adolescente encontra aí uma fragilidade que o torna um manipulador.
Sendo assim, se os pais irão atender aos filhos porque não suportam insistência, ou para resolver rapidinho um conflito estabelecido pela negativa dada, aí eles estão deixando de ser educadores. Qual a consequência? Seus filhos estarão deixando de valorizar o que tem e passando a ser consumidores compulsivos e infelizes. Há, sim, a possibilidade de não sermos felizes, mesmo tendo tudo o que desejamos. Esse é o grande desafio nosso como pais e mães educadores. Comprar para satisfazer não as necessidades. O exagero pode, sim, provocar a ideia de que é fácil ter as coisas e por isso sempre vão querer mais. Vários pares de tênis de marca, calças etc, sem que usem de fato, acabam sendo doados, o que pode criar ainda mais a sensação de supérfluo e desnecessário, mas importante pela única razão de querer ter algo que o tenha oportunizado momentos de satisfação na hora da compra. É aí que está o perigo.   Não há nenhum absurdo em comprarmos para os nossos filhos, vê-los contentes e juntos compartilharmos alegria. Apenas precisamos fazer isso com regras bem estabelecidas e fazendo-os entender o valor daquele presente. Também cabe a disciplina, o “não” dito de maneira definitiva e a reflexão sobre a real necessidade daquela compra. Eu consegui milagre com os meus filhos. Confesso que andei meio negligente, certo de que “se posso dar, então darei”. No entanto, foram eles mesmos que me mostraram que o caminho não estava legal. Eles confessaram a mim que uma vida sem gastos absurdos com futilidades, poderia ser mais interessante. Imagine! Eu que pensava que dando a eles tudo o que não tive, estaria dando a felicidade que cheguei a pensar que na vida eu um dia não tivesse conhecido. Eles me educaram e me levaram a uma reflexão tão significativa sobre consumismo que resolvi partilhar com vocês essa experiência educativa. O que eu tinha como base sempre foi o amor e o “não”, sempre posto quando não podia ter dado algo que achavam necessitar. Foi essa base que permitiu a eles dizer para mim que desejavam uma vida “gostosa”, mas sem consumismos exagerados. Estamos vivendo, assim, em um clima de “minimizar” o consumo, sem que haja perda na qualidade cultural, gastronômica e de lazer. O que dimensionamos foi o exagero, aquele que enche os armários de coisas que nem se quer utilizamos.


A interação com crianças: como conhecê-las melhor?



Recentemente, aproveitei uma folga para colocar a minha leitura em dia. Tenho procurado aprender mais sobre as pessoas e como posso entende-las para melhor poder atuar na Educação. Terminei um livro que havia começado a algum tempo. Retomei alguns capítulos e finalmente terminei de ler a obra. Trata-se do livro Decifrar Pessoas – Como entender e prever o comportamento humano, de Jo-Ellan Dimitrius e Mark Mazzarella, editora Alegro. O livro todo é muito interessante e bastante útil, mas, me chamou muito a atenção o capítulo onde os autores trataram das crianças. Tão interessante foi, que tomei a liberdade de compartilhar um pouco do que aprendi com você. A ideia aqui, é ajuda-lo no sentido de conhecer um pouco mais as suas crianças, a partir de uma interação mais refinada e assim ser mais fácil a compreensão do mundo deles.
Todos sabemos que as crianças chamam a atenção a seu próprio modo. Algumas pessoas têm muita facilidade com elas, enquanto outras, mesmo que sejam pais ou parentes mais próximos, encontram muitas dificuldades em se comunicar com elas. A interação com as crianças, a forma adequada de fazer essa interação, é o que pode definir o comportamento das mesmas, bem como ser a ferramenta que nos dará uma maior compreensão do mundo de nossos filhos. Na maioria das vezes, saber lidar com as crianças, é um traço não genético, mas uma habilidade adquirida. Portanto, precisamos conhecer melhor os nossos filhos, para que possamos então garantirmos uma interação saudável. O primeiro erro nosso, é acreditar que o comportamento de nossos filhos, é inerente a um traço de personalidade imutável. Não é verdade. Podemos sim mudar o outro. A educação é isso: moldar, acomodar, inserir e tornar o outro socialmente aceito. Se acharmos que está tudo bem com o comportamento de nossos filhos porque herdaram isso de alguém da família, é admitir que não há o que se fazer. Aí sim, é que a situação foge ao nosso controle. Por isso, tenho dito que somente conhecendo mesmo as nossas crianças em casa e na escola, é que poderemos ter o controle de situações e o domínio saudável de uma relação, onde a criança busca segurança e confiança.
Crianças manhosas, dramáticas e manipuladoras em casa, serão assim também na escola, no condomínio em um encontro de família, igreja e onde mais ela conviver. Se deixarmos ela fazer tudo em casa, estamos também dando a ela um salvo conduto para que façam em outros ambientes o que acham que podem fazer. Olhe o problema... em outros ambientes, as regras sociais e de convívio obviamente são outras e, claro, estamos sujeitos a respeitá-las. A perfeita interação de nossos filhos no mundo em que vivem, depende da forma como, em casa, nós colocamos as regras. Afinal, a família é uma instituição educadora e, é sim a primeira escola de nossos filhos fundamental para a formação de cada um! Como se diz: “ educamos para o mundo” e o mundo não é nosso lar. Por isso vai a regra: disciplinar em casa, é ensinar para o mundo. Nós, pais, precisamos dessa sensibilidade. Precisamos de inserir os nossos filhos em nossos jantares, de forma a aprenderem a se comportar diante dos convidados, respeitando as regras sociais e comportamentais. Precisamos de levar os nossos filhos em nossas viagens e festas, ensinando-os a terem uma conduta de acordo com o que cada ambiente e evento exige de cada um de nós. Precisamos inserir os nossos filhos em uma reunião de família, onde se está discutindo o orçamento doméstico, pois precisam saber como deverão conter os desejos de consumo para não ficarem exigindo o que não estamos podendo dar. Tudo isso é uma maneira de conhecermos mais os nossos filhos e também deixá-los com parcelas de responsabilidade. Essa ação educativa, não só nos ajuda a decifrar os nossos filhos, mas de maneira positiva, inseri-los na realidade em que vivem. Cientes e convencidos, passam a fazer uma leitura diferente da vida, de seus desejos e de suas responsabilidades. Que maravilha! Fácil? Não, nada fácil. Formar pessoas é sem dúvidas o maior desafio da família e da escola. Tentamos acertar sempre, aprendendo com os erros e equilibrando as ações. O que não podemos fazer, é deixar para lá, esperando que o tempo dê jeito. Não resolve e pode até piorar. O que resolve é o cuidado, a atenção e os esforços conjuntos da família e da escola. Estamos juntos!


O mercado editorial mundial e seus paradigmas diante do dilema: livros impressos X livros digitais



No mercado brasileiro de impressão de livros, já não existe mais um temor em relação à produção de livros digitais. Dessa forma, há hoje o entendimento de que a leitura digital não leva grande parte dos leitores de livros impressos, como aconteceu com o mercado da música. O que evidencia esse fato são os sinais de estagnação que a venda de livros digitais já nos mostra nos EUA e na Europa.
Nos primeiros nove meses de 2015 e início de 2016, as vendas de e-book (livros eletrônicos que podem ser lidos em e-readers, tablets, PCs ou Smartphones) caíram cerca de 11%. No Brasil, embora o SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), não apresente dados oficiais sobre a venda de livros digitais, temos registro que, de fato, nunca houve um crescimento exponencial dessa modalidade. A Amazon, site de multimídias, que domina esse mercado, não revela números, mas se pode dizer que vivemos uma estagnação aqui também mesmo diante desse cenário, os livros impressos estão mostrando uma resiliência e sobrevivendo a onda de digitalização de textos.
Concomitante a isso, a gigante editorial Hachette registra que a queda de consumo de e-books caiu na mesma proporção que aumentou a produção de livros impressos nos últimos 2 anos nos EUA. Hoje estima-se que, nos EUA, o patamar do livro digital seja entre 20% a 25% DO MERCADO EDITORIAL e, no Brasil, seja na ordem de 3% a 5% e já consolidado, ou seja, é basicamente a fatia de mercado com atração para essa plataforma de leitura. Todavia, vale destacar aqui, que esse mercado editorial digital tem atraído muito os livros digitais de autopublicação já que o próprio autor publica o seu livro sem passar por um conselho editorial ou editora. Hoje, na AMAZON Brasil, de cada 100 livros vendidos semanalmente, cerca de 30 livros são autopublicações.
Com todo esse “bum”, cabe ressaltar que o período de maior expansão dessa modalidade digital, no Brasil, foi mesmo nos anos de 2014 e 2015, quando a AMAZON se posicionou no mercado editorial brasileiro. Contudo, o livro impresso sobreviveu, mesmo em um país onde a maioria das pessoas não têm o hábito de ler. Além disso, os leitores não migraram totalmente para a plataforma digital, mas passaram a consumir os dois modelos de editoração. Há casos em que se recorre aos títulos digitais quando no mercado de impressos, o título procurado esteja esgotado.
Quando se fala em mercado editorial mundial, o Brasil ocupa o 9º lugar. Isso ocorre não exatamente porque lemos, mas pelo fato de o governo, através do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola), distribuir milhares de obras de literatura, de pesquisa e de referência para promover o acesso à cultura e o incentivo à leitura nas escolas públicas. Desconsiderando a participação do governo nesse mercado, a situação é outra. Em nosso país, apenas 15% da população compra livros, ou seja, 85% da população não compra nenhum livro. Portanto, precisamos, sim; mudar urgentemente esse cenário, uma vez que os maiores leitores brasileiros estão na faixa etária de 5 a 17 anos. Alguns leem devido ao incentivo da escola e outros, porque se sentem “obrigados” a ler.