sexta-feira, 25 de julho de 2014

Meu filho não mente



“Professor, o meu filho não mente!”. É o que costumo ouvir em vários atendimentos que faço a pais. Escuto respeitosamente, contudo tenho outro entendimento. Na verdade, à luz da Psicologia, sabemos que as crianças mentem sim, e por duas razões: por desejo de realização ou por medo. No desejo de realização, a criança cria situações positivas para ela. Por exemplo: chega em casa dizendo que marcou três gols na aula de Futsal, quando na verdade isso não aconteceu. Ela está buscando autoafirmação e também o elogio dos pais. No segundo caso, por medo, ela mente sobre algo para fugir do castigo ou da repreensão. Diz que não foi ela e culpa os outros. De fato, a maioria das crianças, e mesmo os adolescentes, mentem por medo.
Nós, pais e educadores, precisamos entender que a mentira existe, e quando enxergarmos que ela está instalada, devemos mostrar às nossas crianças que elas não estão agindo de forma correta. É preciso fazê-las entender que mentir, esconder a verdade, não é um valor ético aceitável. Precisamos ensinar que a mentira compromete a confiança e pode até mesmo prejudicar outras pessoas. Enxergar a mentira nos filhos e fazê-los ver que não estão certos é a melhor forma de educá-los para a vida. É muito normal, diante de uma situação de “aperto”, a mentira ser a janela de escape. Adultos costumam agir assim também e isso não é ético. Nós, pais e educadores, precisamos muito estar atentos a esse comportamento em nós mesmos, pois as mentiras, mesmo que inocentes, são mentiras.
Muitas vezes, na vida real, a mentira tem sido utilizada. Na verdade ela convive conosco o tempo todo. Mas (observem bem!), repudiamos a mentira sempre. Criticamos os que mentem, achamos que a “mentira tem pernas curtas” e para nós, mesmo que seja dolorosa, queremos a verdade sempre. Por isso mesmo, aconselho a não aceitar a mentira de seus filhos. Punir, castigar e humilhar? Mil vezes digo não! O que temos que fazer sempre com as nossas crianças é ensiná-las. Se desejarmos mesmo um mundo mais ético, uma sociedade mais digna e um lugar bom para os nossos filhos, então não podemos permitir que eles cresçam na mentira.
Ninguém nasce sabendo mentir. Esse é um comportamento que adquirimos a partir da convivência com outras pessoas. Claro que não me refiro aqui às “fantasias infantis”. Isso é outra coisa que um dia tratarei em um outro ensaio. Na fase das fantasias, a mentira ocupa o lugar da “imaginação”. Tal fato é parte do processo evolutivo e principalmente de aprendizagem. As crianças estão “viajando” na imaginação. Estão se conhecendo e conhecendo o mundo. A fase da fantasia vai até por volta dos 7 anos, podendo é claro se estender.
Voltando à questão... quando a criança mente para esconder algo ou para se promover, nós, pais e educadores, temos que estar atentos para atuarmos no sentido de corrigirmos esse desvio de comportamento. Se faz necessário aqui ouvir a criança e não criticá-la ou puni-la, apenas deixá-la à vontade para falar a verdade e sentir que falar a verdade não pode gerar punição. Essa atitude gera um clima favorável à confiança e à segurança, o que aumenta a chance de a criança sempre dizer a verdade. A mentira pode ser, então, uma forma encontrada inconscientemente pela criança de denunciar que ninguém sabe de fato o que ela faz. Certamente essa sensação é quase uma permissão para que ela minta. Portanto, o diálogo franco, a liberdade da fala da criança e a escuta dos pais e educadores são essenciais para que a criança perceba que não é necessário mentir para resolver os problemas que lhe são postos. Caso não funcione, recorra a atitudes mais disciplinadoras. Se funcionou com você, na medida certa, acontecerá com seus filhos.


quinta-feira, 24 de julho de 2014

Entrevista


Entrevista para a TV Maceió que fala sobre a importância da Educação Infantil para a formação das pessoas, do Projeto Pedagógico Reggio Emilia entre outros assuntos.


segunda-feira, 21 de julho de 2014

Eu educo os meus filhos com culpa?



Já analisamos muita coisa, já compartilhamos muitas experiências. Eu me expus, me despi emocionalmente para vocês, no que tange a minha experiência de pai e educador. Mas ainda falta discutirmos uma questão muito complicada, que é o sentimento de culpa que carregamos conosco. Não quero discuti-lo à luz da Psicanálise, não quero correr o risco de tornar-me enfadonho. Quero como pai e educador me reportar a vocês a partir de um ponto prático. Na verdade, quero que paremos um segundo na leitura deste artigo para que nos perguntemos isto: Eu já me culpei em algum momento na relação com meus filhos?
Imagino que sim. Muitas vezes, pressionados pela “psicologização” de nossa sociedade, em algum momento (ou até em vários!) a culpa por agir diferente do que andam convencionando por aí tenha lhes deixado(a) constrangido.
E quando a culpa se instala, fazemos mil promessas.
Será que erramos mesmo na hora de um corretivo disciplinar que damos aos filhos? Será que temos sempre que estar alinhados a uma “padronização comportamental”? Temos mesmo que agir, na educação de nossos filhos, exatamente como têm agido nossos amigos com os filhos deles? Temos não! Temos é que educar com amor, com razão e com autoridade, ora essa! Agora devemos colocar as crianças no centro de tudo? Elas têm sempre prioridades e deve ser tudo como dita um certo “psicologismo social pequeno-burguês”? Claro que não!
O sentimento de culpa abre a janela da insegurança e aí o medo de estar errando nos leva a sensação de que precisamos ceder sempre. “Tadinho” é o que vem a nossa mente. O “tadinho” é a chave do “Então tá. Pode sim”. Isso tem contribuído sabe para que? Estamos nos tornando reféns de nossos filhos. Eles é que estão se impondo e tendo autoridade em casa. Inversão de papéis? Cuidado com isso, pois podemos estar perdendo nossas crianças, ao permitirmos que elas cresçam sem limites, achando que tudo tem que ser para ela e do jeito dela. Sabem o que gera isso? Conflito na escola, no condomínio... E, depois que crescem, os conflitos acontecerão também no trânsito, no trabalho, no casamento. Não podemos nos conformar com isso nem com a ideia de que “é assim mesmo, tudo é normal, o mundo hoje é assim”. Se é, é porque estamos deixando que assim seja. Estamos autorizando a negligência na educação dos filhos para que não tenhamos culpa.
As mães que trabalham costumam sentir mais culpa, contudo entendo que é certo vocês trabalharem, exercerem a sua profissão e contribuírem na renda familiar. Há algo de errado aí? Claro que não! Não quero aqui entrar na questão do trabalho feminino, apenas deixar claro que ele é uma realidade, e que o mercado está para vocês, mães, e que tudo deve ser acomodado no sentido de vocês se permitirem se realizar. Se não for assim, terão culpa também: a culpa de não terem se construído como pessoa. Portanto, tudo certo. Trabalhem, eduquem, disciplinem, realizem-se e digam: “o comando é meu!”. Sejam seguras e seus filhos entenderão.
Não sintam culpa quando tiverem que corrigir, orientar, educar e mostrar o que é certo na vida. Suas experiências é um arsenal que os filhos precisarão para a vida. Sei que é difícil educar filhos hoje sem que haja culpa. Contudo, a culpa será muito maior quanto mais agirmos por influências de teorias com que não concordamos. Sejam o modelo de pai e de mãe que desejam ser. Não tenham medo de usar tudo o que aprenderam com os seus pais. Se a culpa vier, vejam quem a trouxe, mas não tentem mudar o curso das coisas. Seus filhos, lá na frente, saberão que agiram por amor. Afinal, não se erra quando se quer acertar de verdade e por agir com amor e responsabilidade.