segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Mas, o que é a Educação 3.0?


O grande educador brasileiro Paulo Freire, falecido em 1997, já havia anunciado as mudanças pelas quais a educação passaria, a partir de uma pedagogia mais participativa e colaborativa. Essas mudanças certamente estão impactando nos modelos pedagógicos vigentes e provocando uma verdadeira revolução silenciosa na educação. Estamos falando de uma nova concepção, um novo conceito e uma nova pedagogia, que ganhou o nome de Educação 3.0. Esse conceito foi utilizado inicialmente no ano de 2007 pelo Prof. Derek Keats, da Universidade de Witwatersrand, de Joanesburg. A ideia era produzir um conceito para a proposta de introduzir na prática de ensinar o aprendizado colaborativo e personalizado, a partir de uma visão mais holística do educando.
Preparar os estudantes desta nova geração para o mercado de trabalho está exigindo das escolas e dos educadores uma nova postura, levando ao engajamento dos alunos motivados a dar respostas aos desafios de hoje e do futuro, e a enxergar o aprendizado como uma ação contínua que não se restrinja às oportunidades oferecidas pelos professores, mas que oportunize ao aluno buscar e construir saberes inerentes às suas necessidades de aprendizagem e interesse em um ambiente físico acolhedor e de posse de tecnologias digitais para o suporte da aprendizagem. As salas de aula de hoje se transformarão em ambientes onde o mobiliário e a dinâmica do aproveitamento do espaço garantirá aos alunos acesso às informações sem necessitarem de livros ou mesmo biblioteca. Os educadores, por sua vez, deverão estar habilitados para lidar com alunos cada vez mais conectados e informados. Terão, então, que ser mais orientados para a solução de problemas do que “passadores de informação”, “dadores de aulas”. 
Ao contrário do que muitos podem pensar, a escola 3.0 não é aquela que troca a lousa de giz pela lousa digital, ou o caderno pelo tablet para simplesmente continuar transmitindo o conhecimento. Ela é, antes de tudo, uma nova concepção de ensinar, como ensinar e com o que ensinar e avaliar. Esse é o desafio para todos os educadores do mundo e essa nova pedagogia já é realidade em vários países da Europa e também nos EUA. De forma objetiva, a ideia principal é levar os alunos a trabalharem em problemas que valem a pena resolver, produzindo em conjunto, através de pesquisa, aprendendo a criar histórias, empregando diversas ferramentas, sendo curiosos e criativos, como é necessário que sejam as pessoas ativas do século XXI. Hoje, na vida e no trabalho, as pessoas vivem e trabalham em pequenos grupos. Elas resolvem problemas juntas. Usam ferramentas digitais, apresentando novas ideias para os outros, reunindo informações de vários conhecimentos para a solução dos problemas. Elas conversam umas com as outras, utilizando-se de muitos veículos de comunicação e interação colaborativa.
A escola 3.0 precisa evoluir a ponto de ser parte dessa cultura produtiva e relacional de nosso século. Os alunos necessitam de conexão com o mundo e de um ambiente desafiador. Ainda estamos com um modelo 2.0, mas avançando para o modelo 3.0. Jim Lengel, consutor e professor da Universidade de Nova York, concorda que a escola de hoje necessita evoluir para o mesmo modelo de trabalho executado hoje pelas grandes corporações em todo mundo. A escola tem que propiciar aos estudantes um ambiente físico e pedagógico que se assemelhe ao que ocorre no mundo do trabalho contemporâneo. É preciso contextualização com o mundo atual, com as novas tecnologias e demandas do nosso mundo e do mundo em que nossas crianças viverão. 


terça-feira, 8 de setembro de 2015

O mundo que nos formou não existe mais



Recentemente acompanhei pelo YouTube uma série de palestras do Historiador Leandro Karnal. Ele é doutor em História pela USP (Universidade de São Paulo) e docente na UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). É dele a tese “mundo líquido”. Esse mundo é o mundo em que vivemos; é o mundo globalizado com tudo o que ele carrega. Nós vivemos nesse “mundo líquido”, e a distância de realidade entre as gerações é enorme. O mundo em que vivemos durante nossa infância não é o mundo em que vivem os nossos filhos. Nem de perto!
É muito comum querermos transmitir aos nossos filhos as boas vivências de nossa infância. Sonhamos em ver as nossas crianças correndo livremente, brincando com os amigos, subindo em árvores, jogando chimbras, queimado e estudando em um modelo de escola que nós estudamos. Muito difícil... O mundo mudou, e mudou muito rapidamente.
Quando eu era criança, não havia internet, telefonia móvel nem redes sociais. Aliás, não havia mamão papaya e nem kiwi, que veio do sul da China. Sou de uma geração que escrevia carta, falava ao telefone usando um aparelho em que precisávamos discar os números com o dedo indicador. Quando professor, lecionei utilizando o “quadro negro”, o giz e rodando provas no mimeógrafo, da mesma forma que quando estudei. Ver hora em relógio de ponteiro e assistir a TV em cores era o máximo. Melhor ainda foi o retro-projetor. Que tecnologia maravilhosa! O melhor emprego era o do Banco do Brasil ou das Forças Armadas e a alegria era o Natal para ganhar roupas e presentes. Somos da época em que tomar leite com manga fazia mal e que ter 50 anos era ser idoso. Esta nossa geração aprendeu a datilografar para ter uma boa colocação no mercado de trabalho e o sonho era um bom concurso público. Mas tudo isso ficou no passado.


O mundo mudou, tornou-se líquido. Hoje, a tecnologia tomou conta das relações pessoais e os “melhores amigos” estão nas redes sociais. Até o namoro está lá também. Perdemos referências importantes. O que é o fim de um mundo não é mais o fim do mundo. Acreditávamos que o mundo acabaria em 2000, e já se passaram 15 anos. Mas o que está mesmo acabado é aquele mundo em que vivíamos, principalmente os mais antigos de nós. Lembrem-se de que mesmo que vocês sejam pais ainda novos hoje, o abismo em relação aos seus filhos, quando estes crescerem, também terá crescido.
Somos uma geração de outro mundo, educados em escolas para aquele mundo. Mas elas não podem permanecer lá, naquele tempo. As escolas precisam evoluir para acolher, ensinar e formar as crianças e jovens da Educação 3.0. Essa adequação não pode ser só tecnológica; acima de tudo, tem que ser de quebra de paradigmas. Os valores e conceitos do passado terão que se adaptar às vivências do presente e às do futuro que chegarão.  Por mais que lutemos, a evolução clamará por inovação, e novos conceitos, em um movimento dialético, superarão os conceitos antigos.
O mundo muda, sempre mudou e agora vem mudando com muito mais velocidade. A família e a educação têm a missão de estreitar o abismo que separa as gerações e construir pontes que liguem a realidade daquele tempo com a atual, para que as crianças e jovens de hoje consigam se realizar, a partir de seus desejos e da forma como enxergam o mundo. A educação, acima de tudo, deve ser também o agente que acolha e que promova mudanças. Educamos jovens para o mundo dos jovens. Formamos pessoas para viverem o seu tempo e não um tempo passado. A educação tem que respeitar a tradição, mas tem que ter a coragem de ousar.
A vida está mais longe. Viver é compartilhar; amigos são virtuais; a comunicação está sendo feita ao teclar e não ao falar. Não mais somos donos de nossos desejos, mas sim presos ao modismo desse mundo líquido. Fechar os olhos para isso é ficar no passado. E se nós ficarmos lá, como iremos nos comunicar com as crianças e jovens que estão aqui no presente? Se negarmos a evolução, estaremos negando educar crianças e jovens da nova geração. Se não estivermos conectados com esse mundo, estaremos sem condições de realizar trocas com nossos filhos e alunos. Quem o fará? Algum tutor nas redes? Quem os compreenderá? Onde eles terão espaço para se expressarem? Será nos sites de Bate-Papo? Precisamos urgentemente acompanhar as mudanças e as alinharmos aos nossos filhos e alunos.
A educação está atenta às mudanças. Ela é parte dessas mudanças e vem se adaptando. Hoje, fala-se no mundo em “Educação 3.0”. Em síntese, esse modelo traz tecnologias digitais e saberes compartilhados. A “Geração Y” quer uma escola mais participativa, conectada, desafiadora, com aprendizado colaborativo e personalizado. A Educação 3.0 propõe uma pedagogia construtiva capaz de quebrar paradigmas na metodologia como um todo. O aluno está sendo chamado a utilizar novas plataformas não só tecnológicas, mas também na forma de se buscar o conhecimento e, principalmente, os saberes que são realmente importantes para a vida. Educadores e “Espaço Escola” estão em transformação. Professores terão que se preparar para alunos mais críticos, e o professor deverá ser mais um orientador. Alunos deixarão de trabalhar sozinhos e passarão a compartilhar saberes com os seus pares. A aula expositiva cederá lugar a plenários, e os smartphones e iPads estarão livres para as consultas. Os alunos aprenderão de forma livre utilizando-se de uma extensa bibliografia de textos eletrônicos, tutoriais online, aprendendo a ser curiosos e criativos. O aluno será o foco do processo, e não o conteúdo que ele trouxe para a aula. Alunos deverão ser avaliados através de suas próprias “réguas” e não por uma única “régua”, como faz o professor da Educação 2.0, essa educação que já está no passado. Os alunos serão instigados em suas habilidades e competências e poderão trocar saberes em mesas dispostas a proporcionar as trocas. Ela será uma escola inovadora para a geração de seu tempo, do tempo de agora.
A Escola da Educação 3.0 já existe em países pelo mundo comprometidos com as mudanças e já tem sido base para nós educadores nos adaptarmos a essas inovações. Tudo deverá ser feito a seu tempo, mas quem dita o tempo não são as nossas escolhas. É a evolução.