segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Pai ou mãe de quem mesmo?



Estamos vivendo em um mundo conturbado. As exigências da época em que vivemos, a pressa, as pressões econômicas e sociais, o momento político que estamos atravessando em nosso país, tudo isso concorre para roubar de nossos filhos um pouco da infância. Se pensarmos que hoje eles vivem “apertados” em apartamentos e de certa forma presos ao mundo digital, aí é que temos mesmo uma enorme perda da qualidade da infância. A Infância tem um ritmo de sonho e uma lentidão própria que a pressa desse mundo contemporâneo acaba acelerando e muito. Sinto que as crianças estão crescendo em um grande “vácuo emocional”, provocado por perda de qualidade de vida no que tange ao relacionamento com amigos e mesmo com as famílias. Tenho percebido que o “espaço Escola” tem sido muito valorizado, pois por mais paradoxal que seja, é na Escola que as crianças estão encontrando espaço para expressarem as suas emoções e, principalmente, brincarem com os colegas.
Estamos em um mundo tão acelerado e terrivelmente pouco vivenciado que a frase mais comum que soltamos é: “Nossa, como a vida está passando tão rápido”!  Essa sensação horrível parece querer dizer, para nós que estamos com pouco tempo para viver, que está nos faltando senso de pertencimento ao tempo. Já imaginou o impacto disso na relação entre os familiares e, principalmente, em nossa relação com os filhos? Eu penso muito nisso...
Às vezes, como adultos, vemo-nos com um pesado fardo emocional às costas. Muito desse peso, às vezes nem nos pertencem, mas somos chamados a carregá-los, como: a doença de nossos pais, um problema no casamento de um irmão, a perda de alguém que amamos, as crises sistêmicas em nossa economia e política, a violência urbana etc. Mergulhados em tudo isso, sentimos uma vontade enorme de pousarmos esse fardo no chão. É preciso fazer isso para olharmos com mais atenção para os nossos familiares diretos. É preciso criar novos padrões emocionais para as nossas vidas, focando principalmente no bem-estar de nossos filhos. Nunca é tarde para se dar um basta. Também nunca é tarde para nós fazermos a seguinte pergunta: estou mesmo satisfazendo as necessidades emocionais de meus filhos? Pergunto-me muito isso e às vezes fico em dúvida com a minha resposta. No dia a dia, me provoco novamente, compartilho com a minha esposa e procuro fazer ajustes. Às vezes, erro de novo. às vezes acerto, o fato é que tentarmos acertar, é o grande desafio.
Somos pais e mães de nossos filhos e vivemos por eles. O tempo todo pensamos na vida deles, no futuro, no que mais podemos fazer para encaminhá-los no “bom caminho” da vida. Afinal, os nossos filhos sempre precisarão de nós, da compreensão e da assistência que lhes pudermos dar. Se nos desentendemos com eles por alguma razão, cabe a nós, pais e mães, o resgate da relação e da confiança. Isso, sem perdermos a paciência e sempre valorizando a condição de sermos o lado maduro dessa relação. Ganhamos muito com isso, pois toda vez que temos sucesso nessa missão, nos sentimos seguros e funcionais em nossa missão de educar e amar. Portanto, vamos valorizar esse momento de entrega e resiliência de nossa parte. Quanto a eles, saibam que estão aprendendo conosco a serem pais e mães no futuro e também a serem esposos e esposas. Ensinamos com exemplos e eles são esponjas que nos secam, hidratando-se em nossas experiências.
Somos, como pais e mães, a força que move a vida de nossos filhos e, por isso mesmo, só seremos de fato importantes na vida deles se formos o porto seguro para se apoiarem. Por isso mesmo, ressalto a importância de nosso papel. A dificuldade da paternidade e da maternidade, reside em parte, em perceber de fato a importância de ocuparmos o papel de pai e de mãe. Não podemos nos refutar e não terceirizar os compromissos vitais que pais e mães devem ter com os seus filhos. Não é bom para eles, que se sintam menos importantes do que os nossos compromissos. Da mesma forma, não é bom que tenham em outros, o espelho que gostariam de ter em casa para se mirarem. Por isso mesmo, é fundamental dar significado à relação pais e filhos e trazer para você o gostoso compromisso de oportunizar felicidade aos seus filhos. Nós, pais e mães, somos sim responsáveis pela felicidade de nossos filhos. Eu sou muito grato por ter esse compromisso.


Bibliografia:

Myla E Jon Kabat – Zinn. Nossos Filhos, Nossos Mestres. Ed. Objetiva. Rio de Janeiro, 1998.


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